SABERES-FAZER
Execução de um florão
Na monografia de Afife, Avelino Ramos Meira refere:
"Se os tectos eram decorados
com ornatos ao centro, cantos ou cercaduras, esta decoração era feita
da forma seguinte: desenhavam o ornato, em tamanho natural, em papel
amarelo, chamado ‘papel de pique’, nome que por tradição, ainda hoje se
usa nas papelarias. Feito o desenho, picavam os contornos exteriores do
mesmo, com uma agulha, na qual punham, de um lado uma rolha de cortiça,
para facilitar o trabalho e não magoar as mãos. Em seguida colavam o
desenho no tecto e com uma ‘boneca’ cheia de pó de carvão, batiam sobre
o referido desenho. Tiravam o papel e ficava o desenho, todo estampado
no tecto com os contornos exteriores em pontinhos de carvão, que os
artistas ligavam com lápis .
Acabada esta paciente operação,
começavam a amassar com água pequenas quantidades de gesso de estuque
que iam aplicando com espátulas sobre o desenho e cortando com ferros
próprios até obterem um fino recortado de folha de salsa estilizada,
própria do estilo Luís XV e Luís XVI, daquela época" - (Meira, 1945: 107-108).
Este processo deixou de ser executado com o aparecimento da moldagem em estuque.
Processo de execução de um florão por molde
(A partir de entrevista com o Sr. Diamantino Cunha, em 26 de Outubro de 2010)
O molde era constituído por positivo e negativo.
O positivo, em gesso, apresentava a mesma configuração do florão que se pretendia colocar .
O negativo, ou forma, era em cera virgem.
Fases de execução:
1. Molhava-se bem o positivo emergindo-o em água dentro de um bidão ou balde grande durante um dia ou dois;
2. Amassava-se barro branco muito macio que se colocava à volta do positivo com um pequeno intervalo;
3. Derretia-se a cera numa lata, panela ou pote;
4. Cobria-se o positivo com cera e deixava-se endurecer;
5. Depois retirava-se o positivo da forma (ou
negativo) o que era possível pois como a base do positivo tinha sido
molhada não ficava agarrado à forma;
6. Limpava-se o negativo e dava-se-lhe uma mão de azeite;
7. Fazia-se uma calda de gesso que se deitava dentro
do positivo conjuntamente com um pouco de sisal para endurecer,
afagava-se e deixava-se puxar;
8. Depois de estar seco, virava-se o positivo e saía o florão ;
9. Com uma colher davam-se uns traços na base do florão para a tornar rugosa;
10. Aplicava-se um pouco de gesso no verso do florão
e colava-se-o no fasquiado com a ajuda de um aprendiz que o segurava
durante alguns minutos até se concluir a fixação.
Execução de um fingido
(Depoimento do Sr. Diamantino Cunha, em 26 de Outubro de 2010)
"Deixávamos
uma faixa aí com 10 ou 12 cm e marcávamo-la com um fio. Depois
para dar a ideia de que aquele espaço era saliente fazíamos um ‘traço
de sombra’ com um pincel muito fino. Com uma régua já própria (para aí
de 1,5m) era lapidada de um lado. A gente encostava-a e sobre a régua
fazia um pequeno traço com 1cm ou menos em castanho escuro (‘vou dar a
sombra’) e assim dava-se a ideia de que havia uma saliência, mas era
uma ilusão de óptica. Fazíamos os apilarados em exterior e metíamos o
tracinho e depois as pessoas julgavam que aquilo era saliente e não
era."
1- Meira, Avelino Ramos – Afife (Síntese Monográfica), Porto, 1945, pp. 107
2- Idem, ibidem pp. 108
Imagens
Fingido de Alvenaria

Fingido de Estofado - "Capitoné"

Fingido de Madeira e Metal

Fingido de Mármore

Fingido de Talha Dourada

|