ESTUQUE NEOCLÁSSICO
A
descoberta, em finais do século XV, das pinturas da Domus Aurea (ou
Casa Dourada), mansão, ou villa, mandada construir pelo imperador Nero
(37 d.C-68 d.C), inspirou os artistas do Renascimento, que passaram a
utilizar nos seus quadros as decorações em grotescos, assim chamadas por
se referirem à forma de gruta que escondia o edifício.
Na Arquitectura, o achamento das ruínas da villa de Nero contribuiu
para acentuar a tendência, que se vinha manifestando desde as obras do
arquitecto Alberti (1404-1472), de adopção de plantas baseadas no modo
de construir da Antiguidade Clássica. Andrea di Pietro della Gondola
(1508-1580), também designado por Palladio, notabilizou-se por defender
em ‘Os Quatro Livros da Arquitectura’ os princípios expostos por
Vitrúvio (séc. I a.C) no tratado ‘Da Arquitectura’.
O Palladianismo revelou-se como um estilo na construção de casas de
campo (as villas) compostas de um bloco central relativamente compacto
por vezes coberto por uma cúpula e com alas de cada lado que se
estendiam em linha recta. Na fachada principal ou nos quatro alçados
abria-se um pórtico em forma de templo. A Villa Rotonda, em Vicenza
constitui disso o melhor exemplo.
A obra de Palladio veio a influenciar a arquitectura europeia, com
maior incidência em Inglaterra ao ser ali divulgada por Inigo Jones
(1573-1652) após uma viagem a Itália. A partir da primeira metade do
século XVIII deu origem a uma corrente estilística na arquitectura
britânica – o neopalladianismo – recusando o gótico e o barroco, de que
foram principais cultores Christopher Wren (1632-1723), Richard Boyle
(1694-1753), Colen Campbell(1676-1729) e William Kent (1685-1748).
Na segunda metade do século XVIII, os irmãos Robert Adam (1728-1792) e
James Adam (1732-1794) destacaram-se não só como arquitectos, mas
também como decoradores do neoclassicismo georgiano.
Quer nas grandes composições em estuque dos tectos e paredes, quer no
mobiliário, portas, fogões de sala, etc., os Adam aplicaram ornatos
reinterpretados dos que haviam sido descobertos nas ruínas das villas,
templos e termas da Roma antiga. Os enrolamentos vegetalistas, as
grinaldas, os grifos, vasos, páteras (taças), os leques, etc, partem do
chão atapetado, cobrem móveis, portas, molduras de lareiras, enchem os
espaços parietais e tectos, tudo numa linguagem decorativa abrangente,
conferindo às mansões uma pronunciada unidade ornamental.
Em Portugal, foi no Porto que se manifestou o maior interesse pela
nova corrente estilística. Teria sido pela influência da colónia
inglesa. e sobretudo do cônsul Whitehead. que a Junta de Obras Públicas
criada em 1763 pelo Marquês de Pombal e sob a regência de João de Almada
empreendeu a execução de um ambicioso plano de urbanização adoptando a
arquitectura neo-clássica de inspiração palladiana.
O primeiro edifício assim gizado foi o Hospital de Santo António, de
risco atribuído ao arquitecto inglês John Carr (1727-1807), cuja
construção, iniciada em 1769, só trinta anos depois estaria apto a
receber os primeiros doentes.
A Casa da Feitoria Inglesa, construída entre 1785 e 1790 sob a
direcção de Whitehead, constitui exemplo da concordância entre o estilo
arquitectónico e a decoração interior, na qual o estuque de inspiração
Adam é relevante.
O templo dos Terceiros Franciscanos (1792-1805) é também neoclássico
na sua arquitectura e na decoração interior em talha e estuque da
responsabilidade de Luigi Chiari, artista italiano que teria tomado
contacto com a ornamentação da Domus Aurea e de outros edifícios
romanos.
(...)
|