ESTUQUE DO MODERNISMO
Nos
finais do séc. XIX, e inícios do séc. XX, assiste-se ao aparecimento de
novos materiais que mudaram completamente o modo de edificar.
O ferro, cuja produção foi impulsionada pela Revolução Industrial,
conhece aplicações na Arquitectura do Ferro, e o aço veio facilitar a
construção de estruturas suportando elevadas cargas, como pontes e
viadutos.
Um pouco mais tarde, com a invenção do cimento Portland, introduz-se o
método do betão armado com varões metálicos para erguer os paramentos,
facilitando a construção em altura.
A este surto de inovações tecnológicas correspondeu uma alteração no
perfil profissional dos técnicos projectistas com a emergência dos
engenheiros, que passaram a executar funções até aí da responsabilidade
exclusiva de arquitectos.
Ocorrem, então, duas correntes no plano da estética da Arquitectura: a
progressista, procurando introduzir novos conceitos estéticos, e a
tradicional, ainda amarrada ao tardo-ecletismo e mesmo ao revivalismo
historicista. Ambas se defrontaram com os gostos prevalecentes nos
encomendantes, maioritariamente dos estratos da burguesia comercial e
industrial, muitos deles capitalistas de ‘torna-viagem’.
Os arquitectos e construtores civis corresponderam ao gosto que lhes
era formulado pelos donos de obras preocupados em construir palacetes e
vivendas com todo o conforto moderno, mas com plantas e decoração
interior ainda muito marcadas pelos neos: clássico, Luís XV e XVI.
Contudo, existiu também uma clientela mais aberta à inovação
estilística surgida com a Arte Nova e a Arte Déco, mas com pouca
expressão em imóveis construídos quando se compara com os da corrente
tradicionalista.
Aveiro e a Lisboa das Avenidas Novas constituem os dois principais
núcleos de arquitecturas com elementos de Arte Nova em Portugal, embora
existam alguns exemplares espalhados por todo o País (entre eles alguns
situados no Porto) que se podem referenciar mais no plano decorativo,
com o emprego, nos alçados, de azulejo com padrões influenciados por
aquele período estilístico.
Pode mesmo afirmar-se que a Arte Nova se implantou como revestimento decorativo exterior.
No estuque ornamental houve uma tentativa da introdução da nova
gramática decorativa baseada na linha sinuosa à semelhança do movimento
dos caules das plantas. O da sala de jantar do Palacete da Condessa de
Santiago de Lobão, no Porto, da autoria de António Baganha (1880-1934), o
único até à data conhecido na cidade, é possivelmente, o melhor
exemplar Arte Nova em estuque decorativo existente no nosso País.
Esta raridade, para além de justificada numa relativa rejeição por
parte das clientelas, terá muito a ver com a efémera duração em Portugal
da modernidade arte-novista: apenas quinze anos, entre 1905 e 1920.
Um acontecimento veio alterar o panorama das Artes Decorativas
europeias com reflexos entre nós - a realização em Paris, entre Abril e
Outubro de 1925, da ‘Exposition Internacionale des Arts Décoratifs et
Industriels Modernes’. Nela procurou-se conciliar a arte com a indústria
de produção em massa, utilizando antigas técnicas e novos materiais,
alguns preciosos, que se incorporavam numa gama diversificada de
produtos desenhados com grande simplicidade formal, empregando a linha
recta em substituição dos ondulados da Arte Nova e usando cores vivas em
combinações de tons.
(...)
|